ASPECTOS PSICOLÓGICOS DA CIRURGIA ESTÉTICA
ASPECTOS PSICOLÓGICOS DA CIRURGIA ESTÉTICA
A beleza é objetiva? Ou está no olho do observador?
Vários estudos, feitos com ressonância magnética funcional (imagens do fluxo sanguíneo no cérebro mediante estímulos), reforçam a ideia de que a beleza realmente está no olho de quem vê, e está associada à autoestima e ao nosso senso de identidade, além de fatores culturais e emocionais no momento da visualização de algo belo. Beleza é algo subjetivo em partes, a noção de beleza varia entre as pessoas, mas o que todas as pessoas consideram belo é algo objetivo e, de certa maneira, mensurável.
Inicialmente, a beleza é relacionada à função do órgão, olhos brilhantes são saudáveis e percebidos como bonitos, da mesma maneira que corpos torneados, bronzeados e sadios são percebidos como belos (com as óbvias variações pessoais). Olhos com as pálpebras mais lisas e com os contornos definidos são belos porque indicam psicologicamente vitalidade e juventude.
Um dos aspectos da beleza é a simetria facial. Existem cálculos que consideram um “golden ratio” (ou proporção áurea) de beleza facial quando a distância entre as duas pupilas têm 46% da largura do rosto, e o centro dos olhos e a boca tem 36% do comprimento do rosto. Nesses cálculos, a angulação da pálpebra entra nas medidas, assim como a largura do nariz, altura da testa e outras proporções. Porém, esse cálculo teórico todo é falho. A largura e principalmente a altura percebida do rosto varia de acordo com o estilo de cabelo, com a tonalidade da pele e o contraste de tonalidades. Existe uma variação étnica muito grande e cultural em todas essas medidas.
No final dos anos trinta, um empresário polonês radicado nos Estados Unidos, onde trabalhava com perucas e perfumes, inventou a “Beauty Micrometer” (“micrômetro de beleza”) para medir a simetria facial — uma máquina parecida com uma gaiola de desenho animado, com parafusos que mensuravam a distância entre os aros horizontais e o rosto da pessoa —, além de utilizar estudos de frenologia e outras pseudociências com as quais aferia a distância entre os olhos, a curvatura da testa e a altura da ponte do nariz, para então escolher a maquiagem certa para cada pessoa. A busca por um rosto perfeito e pelas simetrias faciais foi a obsessão da indústria do cinema durante algumas décadas. Esse empresário criou a maior rede de cosméticos da época, existente até hoje, batizada com seu nome: Maximylian Faktoroxicz - Max Faktor.
Com os estudos de frenologia (estudo, já refutado pela ciência, no qual a forma do crânio e do rosto são associados a regiões cerebrais e suas funções, tentando relacioná-los a faculdades mentais, aptidões e doenças psicológicas), surge o Lombrosionismo, por Lombroso e Ferri, criminologistas que afirmavam existir algumas pessoas nascidas com predisposição ao crime, às drogas, ao alcoolismo e assim por diante. Evoluindo esta ideia, Sir Francis Galton, que era antropologista, explorador e estatístico, resolveu combinar o rosto de diversos criminosos de crimes semelhantes para definir quais suas características em comum. Embora o senso comum da época associasse crimes com degenerações faciais e assimetrias graves, essas combinações de rostos que Galton criou eram belas. “A média é bela” foi a conclusão do trabalho de Galton. Tendemos a achar um rosto belo quando ele está dentro da média das medidas dos rostos com os quais convivemos diariamente, o que tem variação cultural e populacional.
A percepção de beleza da miscigenação, dessa mistura de características, tem uma função genética importante. Pessoas com genética mais variada tendem a ser mais resistentes a doenças.
Fazendo o comparativo com a música, a harmonia é bela quando é criada com consonância (quando há um equilíbrio agradável entre os elementos). Sons parecidos e com frequências que são proporcionais, por exemplo 1 para 3 ou 1 para 4, tendem a agradar mais (mesmo que intuitivamente) do que sons mais próximos e com vibrações em proporções “mais quebradas”, como 1 para 1,2. Comparando com a arquitetura, temos a tendência a perceber cidades cujas casas são mais parecidas e seguem o mesmo estilo (como uma vila alemã típica) como lugares mais bonitos. A beleza formal segue uma sensação de ordem natural, de composição básica.
Porém, se pensarmos no rosto mediano e sem defeitos como rosto perfeito, deixamos de levar em conta uma coisa importante psicologicamente: somos mais exigentes com o nosso corpo do que com o corpo alheio. Tendemos a exagerar nossos defeitos e esquecemos de que são eles que compõem a nossa identidade corporal. Quando o nosso cérebro reconhece rostos, ele “capta” essas diferenças sutis entre os rostos de todas as pessoas que temos em nosso “banco de dados facial” e utiliza isso para escolher nossas sensações ao percebermos a beleza nas pessoas. Pessoas parecidas com as que temos um vínculo emocional tendem a parecer mais bonitas aos nossos olhos, por exemplo. Isolar e eliminar todas essas pequenas “imperfeições” poderia gerar uma perda do senso de identidade pessoal.
Wabi-sabi é um conceito oriental sobre a beleza do impermanente, dos pequenos defeitos e da individualidade da imperfeição. Classicamente é o vaso quebrado que é remendado com uma cola dourada para mostrar o defeito de uma forma bela. Guardando as proporções, existe algo instintivo em nossa percepção dos outros que se apraz com alguns defeitos, por isso, se observarmos objetivamente supermodelos ou artistas de cinema, considerados muito bonitos, acharemos algumas características faciais marcantes que poderiam (e são) consideradas defeitos por algumas pessoas.
Existe um estudo bastante atual, comparando o número de “matches” (correspondências) em aplicativos de encontros do celular, mostrando que as pessoas com uma beleza não tão clássica e formal (simétrica) tendem a ter seus perfis mais curtidos do que as pessoas consideradas universalmente mais belas. Provavelmente porque diferenças sutis nessa proporção ideal geram mais apego em algumas pessoas específicas.
Quando falamos em rostos, temos que ter muita preocupação com a região dos olhos, pois o nosso cérebro usa boa parte da nossa habilidade de reconhecer rostos baseado no formato dos olhos. Por isso, apenas uma tarja preta na região ocular serve como censura para evitar que uma pessoa seja identificada em uma foto. Ou que, em tempos de quarentena, as pessoas possam ser identificadas mesmo utilizando máscaras cirúrgicas.
Existe um problema sério psicológico chamado de transtorno dismórfico corporal (síndrome da feiura imaginária). Comum tanto em homens quanto em mulheres, afeta principalmente adolescentes e jovens adultos que se imaginam feios e desproporcionais, gerando reclusão social e baixa autoestima, as quais eles tentam sanar por uma série de cirurgias plásticas que não resolvem a sensação e agravam o problema. Associada com comportamentos obsessivos e outros fatores psicológicos, pode afetar cerca de 2% da população. Como a procura para resolver esses problemas imaginários se inicia geralmente com o cirurgião plástico, dermatologista ou otorrinolaringologista, geralmente são eles que fazem o diagnóstico, precisando levar em conta que pessoas já submetidas a diversos procedimentos estéticos tendem a manter-se insatisfeitas com o resultado independentemente do resultado real. No Brasil, o primeiro médico a descrever o transtorno dismórfico corporal foi o cirurgião plástico Ivo Pitanguy em 1976.
Eduardo H Strobel von Linsingen
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